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Conferência de Direitos Humanos marca as atividades do mês de maio no CRP14/MS

Para receber os materiais da Campanha Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, o Conselho Regional de Psicologia da 14º região de Mato Grosso do Sul promoveu um espaço de reflexão que mostrou que quando se naturaliza o ódio, as violações de direitos e as ofensas passam a fazer parte do cotidiano de fala das pessoas.

Então, aquilo que parecia trivial nas redes sociais se tornou o ponto de debate na Conferência de Direitos Humanos que reuniu diversos palestrantes no início deste mês no auditório da Uniderp, na capital do Mato Grosso do Sul.

Logo ao chegar na conferência, os participantes entenderam o teor violento da linguagem cotidiana no Brasil. No corredor ao lado do auditório, foram espalhados os cartazes e camisetas da Campanha do CFP. Sem demora, as frases expostas, discursos de fúria que hoje são fáceis de encontrar em qualquer rede social, denunciaram o estado permanente de violência que vive o país hoje.  O membro da comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, Gabriel Medina, explicou que essa realidade está ligada a um período de ascensão conservadora que liberou a raiva das pessoas.

"Eu diria que o clima social começou a mudar de uns três anos pra cá. Antes as pessoas estavam acanhadas, poderiam até pensar isso, mas não manifestavam. Mas agora isso é diferente. Parece que abrimos a caixa de Pandora e os discursos saíram. Hoje temos não temos mais o entendimento liberal de que a minha liberdade termina quando começa a do outro, pelo contrário, agora o que parece que só garanto minha liberdade quando extermino o outro", afirmou.

Medina ainda pontua que a criação dos cartazes foi pensada para expor os diálogos que encontramos nas redes sociais e trazem a tona a violência. "Procuramos abordar um conjunto variado, desde a questão indígena, mulher, racismo, LGBTfogia, etc. São 17 públicos que abordamos por conta do compromisso da psicologia em enfrentar um discurso de ódio e construir uma sociedade baseada na defesa dos diretos humanos e constitucionais que são fundamentais”, completou.

Nos cartazes, era possível se deparar com frases como “Migrante ou é bandido ou estuprador”, “eles vieram para roubar nossos empregos”, “Bandido bom é bandido morto”, “se ela apanhou é porque mereceu”, “tem que prender vagabundo mesmo”, “índio é tudo preguiçoso”, “tinha que ser preto para fazer besteira mesmo”.

Na avaliação da presidente do CRP14/MS, Irma Macário a realidade nacional é delicada. "Preconceito, invisibilidade de grupos e políticas sociais cercadas – temos uma situação no Brasil que promove danos sérios. O sistema prisional, por exemplo, é um grande gargalo para o país e é importante falar sobre isso em todos os círculos, nas universidades, comunidades. Os direitos humanos são de todos. Sabemos que eles podem ser violados a qualquer momento. Acho que a sociedade não tem compreensão que ela tem direito”.

A temática do sistema prisional conduziu os debates da noite. O professor doutor no Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Roberto da Silva, foi o conferencista convidado e em sua fala exposto o papel da educação no sistema prisional e a difícil tarefa de abordar os Direitos Humanos. 

Roberto disse que a educação é um direito fundamental de todos, inclusive daqueles que estão privados da liberdade. “A sentença de condenação não retira dele os direitos, que não seja o de ir e vir. Temos que nos preocupar com as autoridades, gestores são eles quem organiza as políticas para atender os presos”.

Para ele, o cenário nacional não é favorável a discutir os diretos humanos, muito menos para implantação de políticas. “Por conta do resultado das últimas eleições, que polarizou a sociedade e fez surgir diversos fantasmas que estavam ocultos. Esses discursos de ódio contra as minorias sociais acabam vitimando as organizações e os trabalhadores que atuam nessa área. O Brasil é o que mais assassina defensor de direitos humanos”, afirmou.

Além do sistema prisional, a Conferência de Direitos Humanos do CRP14/MS tratou da questão dos imigrantes, a situação dos indígenas e o racismo.