Moção contra a opressão de gênero nas instituições da Psicologia

O Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso do Sul, une-se a outros CRs para reafirmar o compromisso da psicologia brasileira com a superação de todas as formas de opressão de gênero e a necessidade de reconhecer – como profissão constituída por 90% de mulheres – o combate às expressões do machismo presentes em nossosespaços de trabalho, inclusive no âmbito do Sistema Conselhos de Psicologia, assinou e divulga à categoria a seguinte moção apresentada durante a APAF (Assembleia de PolíticasAdministrativas e Financeiras), nosdias 12 e 13 de setembro se 2015.

 

Moção contra aopressão de gênero nas instituições da Psicologia

 

A delegação do CRP 16 não poderia se omitir. Somos o Estado que lidera as estatísticas nacionais de casos de violência contra a mulher e isso é vergonhoso para nós.Para quemachachato, engraçado ou risível, nós não achamos.

 

"Pode, querida. Você pode tudo.Quase tudo comigo, você sabe."

 

A frase acima pode parecer inocente, carinhosa, conversa entre amigos ou algo mais.

 

Mas não é bem assim. Foi proferida por um homem, em uma reunião de trabalho, para uma colega com quem está longe de ter intimidade. Surgiu durante uma discussão, em que mais havia discordância que consenso.

 

Frases como essa são ouvidas diariamente por mulheres no contexto do trabalho, e em geral servem para neutralizar argumentos, para colocá-las na tradicional condição de terem de seduzir, agradar aos homens para obter o que desejam. Em geral não surgem em discussões entre homens.

 

A perversidade desse tipo de abordagem está exatamente na aparente suavidade, na sua ambiguidade. "Você pode quase tudo comigo".Quase tudo o quê? O que isso significa em uma reunião de trabalho?

 

Frases que inferiorizam mulheres, que nos trazem constrangimentos, piadinhas que nos ridicularizam, diminuem a importância do que fazemos e dizemos, fazem parte do cotidiano das mulheres no lar, no lazer, na escola, no trabalho. São filhas do patriarcalismo, da cultura do machismo que alimentamos em nossa sociedade.

 

Lutamos, conquistamos lugares no mundo do trabalho, mantemos nossas famílias, estamos em espaços de representação – mas continuamos ouvindo piadinhas, sendo vítimas de violência, recebendo salários inferiores aos dos homens; enfim, seguimos vivendo em uma cultura que nos desvaloriza.

 

Esse episódio, por si, já seria constrangedor e emblemático, mas uma condição coloca-nos ainda mais preocupadas: foram proferidas pelo vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia, psicólogo Rogério Oliveira, em uma reunião de trabalho com as/os presidentes dos Conselhos de Psicologia de todos os estados brasileiros – o vídeo está disponívelneste link: http://migre.me/rxES1 – o fato vai de 01h10min atéaproximadamente 01h14min.

 

Uma categoria composta por aproximadamente 80% de mulheres. E seu vice-presidente as trata de forma ambígua, de modo a minimizar a relevância do que dizem e ainsinuar um papel para essas mulheres. E essa mulher, junto a outras mulheres e homens, lidera um CRP imenso, tal como é o CRP de SP. Merece o nosso total respeito.

 

Uma diretoria que anuncia lutar pelas condições de trabalho das psicólogas e dos psicólogos, mas cujo representante não respeita as condições mínimas de convivência entre seus pares, pula as barreiras do respeito e insinua "possibilidades".

 

Essa é a situação que muitas psicólogasvivenciamcotidianamentenos seus locais de trabalho. O desrespeitomachista que se expressa de muitas formas, cominterditos e barreiras, com piadinhas, assédio, insinuações, "brincadeiras" – que constrangem, inferiorizam, ferem. E vemos reproduzidas nas relações institucionais dentro da própria categoria.

 

Nós, mulherespsicólogas, não aceitamosesse tratamento, não aceitamos que, mesmo comfrasessuaves, coloquem-nos em lugar de submissão, enfraqueçamnossaspalavras e ações.

 

Não nossentimos representadas e questionamos a legitimidade de um homem que, de seu lugar de poder, desqualifica uma categoria que se compõe e se desenvolvegraças ao trabalho de muitas mulheres.

 

A frase que iniciaessetexto não é carinho, não é brincadeira entre amigos – é machismo, é violência.??Assinam essa moçãocom o CRP-16/ES:

 

CRP-01 – Distrito Federal

CRP-02 – Pernambuco

CRP-03 – Bahia

CRP-04 – Minas Gerais

CRP-05 – Rio de Janeiro

CRP-06 – São Paulo

CRP-07 – Rio Grande do Sul

CRP-08 – Paraná

CRP-10 – Pará/Amapá

CRP-12 – Santa Catarina

CRP-13 – Paraíba

CRP-14 – MatoGrosso do Sul

CRP-18 – MatoGrosso

CRP-17 – Rio Grande do Norte

CRP-19 – Sergipe

CRP-20 – Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia