Hoje, terça-feira, dia 25 de julho, é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. No Brasil, é também Dia de Tereza de Benguela, líder quilombola que se tornou rainha, resistindo bravamente à escravidão por duas décadas. Esta data é um importante momento para refletir a situação das mulheres negras na América Latina e Brasil.
Para Thaize de Souza, psicóloga e Doutora em Psicologia, integrante do Núcleo de Psicologia Étnico-racial (NUPSER) do Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso do Sul, o dia 25 deve ser visto como um dia de reflexão e de visibilidade da mulher negra. “É um dia para dar visibilidade às nossas necessidades, pois o feminismo, ainda que contribua, nem sempre dá espaço para as nossas pautas. Mesmo dentro dos movimentos feministas, a situação da mulher negra é negligenciada, de forma que uma data como essa é muito importante para nós”, afirma.
Em abril de 2014 a Câmara dos Deputados, aprovou a proposta do Senado que institui o dia 25 de julho como Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Foi aprovada também, a inclusão no calendário comemorativo brasileiro o 25 de julho Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Com esses projetos de lei aprovados, o Brasil reafirma a importância da data que foi instituída no calendário feminista no 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, que aconteceu em 1992, na República Dominicana.
Iniciativas como estas, comenta Thaize, vêm ao encontro da necessidade do reconhecimento da história das mulheres negras que estiveram no centro das lutas e movimentos sociais e culturais. Ela ainda completa dizendo: “uma data como essa é importante para que nossas demandas sejam ditas. E é importante, claro, que nossas demandas cheguem aos órgãos públicos, mas já é muito valioso se nossas vozes forem ouvidas pelas nossas comunidades, pelas mulheres brancas, pelos movimentos feministas, pelos homens, negros e brancos, pois essa luta nós não podemos vencer sozinhas. E mais do que isso, nós não queremos lutar sozinhas, pois a solidão, especialmente a social, é uma velha conhecida nossa e isso precisa mudar”.
Opressão, Racismo e Violência
Quanto a situação das mulheres negras na América Latina, a psicóloga explica que elas sofrem três tipos de opressão. “Em primeiro lugar, mulheres negras sofrem, pelo menos, dois tipos de opressão: a de gênero e a de raça. Um terceiro tipo de opressão sofrido pelas mulheres negras é a de classe, pois, infelizmente, representam uma grande porcentagem das pessoas em vulnerabilidade social, por vários motivos: por receberem os menores salários e serem, portanto, o grupo com menor renda social, por ocuparem as posições mais mal remuneradas, por residirem em locais em que estão expostas a violência, entre outros fatores”, pontua.
O racismo é outro fator presente e que contribui para violência. De acordo com o Mapa da violência. Entre 2003 e 2013 o número de mulheres negras assassinadas de forma violenta aumentou 54,2% de mortes.
“Esses dados impactantes deixam claro que o racismo existe sim e que as mulheres negras estão no patamar mais baixo da escala social em quase todos os indicadores. Infelizmente, a maneira como nosso sistema social funciona não permite que esse quadro mude sem que políticas públicas sejam implementadas exclusivamente para isso”, explica Thaize.
A Psicologia contra o racismo
Como psicóloga, Thaize defende o compromisso ético e social da profissão como uma das formas de enfretamento ao racismo. O primeiro passo para concretizar essa tarefa, aponta ela, é reforçar a importância da Resolução 018/2002 do Conselho Federal de Psicologia, que reconhece os efeitos do racismo na sociedade e na saúde mental dos indivíduos, propondo uma atuação que não favoreça, seja conivente ou omissa em relação ao racismo.
Thaize também comenta: “É importante também que as profissionais e os profissionais de psicologia, nas mais diversas atuações, hajam de acordo com a resolução, validando e acolhendo o sofrimento psicológico proporcionado pelo racismo. Além disso, a/o profissional deve promover o empoderamento do seu público alvo, para que esse público entenda que o racismo existe, que ele não é normal, que não se trata de uma brincadeira de mau gosto, mas sim que racismo é crime e que ninguém deve ser discriminado pela cor da sua pele. É função da(o) psicóloga(o) fornecer ao seu público ferramentas para combater o racismo sofrido por e ser promotor de relações raciais mais igualitárias”.
Quem foi Tereza de Benguela
Tereza de Benguela é considerada uma grande guerreira mato-grossense e símbolo da resistência negra no Brasil colonial. Uma liderança quilombola que viveu no século XVIII, companheira de José Piolho, que chefiava o Quilombo do Quariterê, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso.
Quando José Piolho morreu, Tereza assumiu o comando daquela comunidade quilombola e liderou levantes de negros e índios em busca da liberdade revelando-se uma grande líder.
Apesar da pouca representatividade na história oficial do país, Tereza é comparada ao líder negro Zumbi dos Palmares, a “Rainha do Pantanal” do período colonial. Sobreviveu até 1770 e não se sabe ao certo como morreu, mas morreu lutando.