Questões de saúde pública são pautas permanentes no Parlamento sul-mato-grossense. Neste mês, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) reforça, por meio da campanha Agosto Verde, as ações de combate à depressão. A data foi criada pela Lei 5.088/2017, de autoria do presidente da Casa de Leis, Paulo Corrêa (PSDB), do deputado Pedro Kemp (PT), e dos ex-deputados Paulo Siufi, George Takimoto e Antonieta Amorim.
Conforme a norma, o mês de agosto é dedicado a ações preventivas à integridade da pessoa, combatendo e prevenindo depressão, prostração ou desânimo, abatimento, esgotamento, estresse, tristeza, melancolia, ansiedade e outras doenças.
“A atenção à saúde mental dos sul-mato-grossenses sempre foi um assunto em pauta e tratado com muita responsabilidade pela Assembleia Legislativa. Em tempos de pandemia, quando diversas questões econômicas e sociais acentuam os problemas dela decorrentes na vida do cidadão, há a necessidade de intensificarmos esse debate, pensando, sempre, em amparar aqueles que precisam da atenção do poder público nos momentos de dificuldade”, destaca o presidente Paulo Corrêa.
Formado em psicologia, o deputado Pedro Kemp revela que jovens e adolescentes têm procurado e pedido apoio para ações de combate e de prevenção à depressão e ao suicídio. “Sabemos que a realidade do mundo tecnológico muitas vezes provoca o isolamento e a falta de políticas públicas para a juventude também é outro grave problema. Esse tema é grave e precisa ser tratado de forma honesta, objetiva e, principalmente, com ações responsáveis dentro do ambiente escolar. Por isso, apresentamos propostas e apoiamos o Agosto Verde. É preciso ação preventiva”, defende.
De acordo com Kemp, em visitas a escolas, nota-se a preocupação de gestores, coordenadores e professores com o tema. “Escutamos relatos de sofrimento psicológico entre os alunos, em razão de problemas de ordem pessoal”, frisa.
Conforme a lei, os objetivos do Agosto Verde são: promover, por meio de profissionais qualificados, a intensificação de campanhas públicas e a conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce de doenças mentais; e criar a oportunidade de integração de órgãos e entidades, públicos e privados, em ações conjuntas beneficiando a comunidade.
O vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia da 14ª Região (CRP14/MS), Walkes Jacques Vargas, reforça que campanhas sobre o tema ajudam a sensibilizar a população. Dados informados pelo Conselho Regional revelam que, em Mato Grosso do Sul, 199 mil pessoas (10,1%), com 18 anos ou mais, foram diagnosticadas com depressão.
“É importante que campanhas como essa dialoguem com o povo a fim de que a saúde pública ganhe destaque na sociedade. Mais do que isso, é preciso garantir políticas públicas para que a população tenha acesso a serviços de qualidade ofertados pelo Estado”, afirma o psicólogo.
A depressão
Vargas explica que a depressão é uma doença que pode acontecer com qualquer pessoa, em qualquer idade. “Frente a situações em que podemos nos sentir impotentes ou impedidos de seguir com nossas vidas normais, nos vulnerabilizamos e vamos criando formas de nos defender e sobreviver emocionalmente, gerando sofrimento a nós mesmos e àqueles que nos cercam. Diante disso, a depressão pode se desenvolver como uma dessas formas”, detalha.
Caso a pessoa suspeite ter a doença, ele afirma que um dos caminhos para aliviar essa tensão é pensar na criação de novas formas de enfrentamento aos conflitos que trazem sofrimento. “Para tanto, é de extrema importância o acompanhamento de um profissional de saúde qualificado".
O psicólogo informa que no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) é possível procurar auxílio na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima ou no Centro de Atenção Psicossocial. "Hoje, o Conselho Federal de Psicologia já regulamenta o atendimento online, que pode ser uma saída para as pessoas acessarem serviços psicológicos em tempos de isolamento social”, esclarece.
Ele explica que em tempos de crises, como a pandemia da Covid-19, a saúde mental pode ficar mais comprometida. “De repente nos vemos tomados por uma situação de exceção em que temos que nos proteger. Nos deparamos com um universo de notícias, nem sempre verdadeiras, que podem gerar vários sentimentos. Os mais comuns geralmente são o medo, a angústia e também a ansiedade. Quando somos afetados por esses sentimentos, por vezes podemos perder a paz, a fome, o sono e até assumir comportamentos que podem nos levar ao pânico. Frente a essas situações, a depressão pode se desenvolver como uma dessas formas”, relata.
O vice-presidente do CRP14/MS ainda faz orientações aos amigos e familires de pessoas que sofrem com a depressão. “O primeiro passo é sempre acolher qualquer manifestação de sofrimento emocional. Não reforçar preconceitos relacionados a pessoas que estão com a saúde mental fragilizada. A dor de um amigo ou familiar deve ser ouvida e levada a sério. E por fim, ajudar a garantir que essa pessoa tenha acesso a um atendimento de profissional qualificado”.
Saúde mental na pandemia
Pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) revelou que as mulheres foram as mais afetadas emocionalmente durante a pandemia.
Elas responderam por 40,5% de sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse. A pesquisa ouviu três mil voluntários e foi conduzida pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade.
Outro estudo da USP mostrou que uma em cada quatro crianças e adolescentes que foram ouvidos na pesquisa apresentou ansiedade e depressão com níveis clínicos durante a pandemia. Isso quer dizer que houve necessidade de intervenção de especialistas. As informações foram divulgadas durante evento na Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 da Câmara dos Deputados.
Segundo um estudo da Universidade de Ohio (em parceria com universidades de 11 países, incluindo a USP) – o Brasil lidera os casos de depressão (59%) e ansiedade (63%) durante a pandemia, em comparação a outros 10 países. Em segundo lugar está a Irlanda e em terceiro os Estados Unidos.
Apoio Legislativo
A Casa de Leis mantém dois grupos de trabalho voltados às questões que permeiam os debates sobre a depressão. Uma delas é a Comissão de Saúde da ALEMS, presidida pelo deputado Antonio Vaz (Republicanos).
“A campanha do Agosto Verde é muito importante, porque temos percebido que os casos de depressão no nosso Estado têm crescido muito por causa da pandemia da Covid-19”, destaca o parlamentar. Para ele, “a iniciativa vem ao encontro das pessoas que estão passando por algum momento difícil”, diz.
Outro local de discussão sobre o tema na Casa de Leis é a Frente Parlamentar em Defesa da Saúde Mental e Combate à Depressão e ao Suicídio. O deputado Marçal Filho (PSDB) é coordenador do grupo de trabalho. "O Agosto Verde é importante por promover campanhas públicas, conscientizar sobre a prevenção e o diagnóstico precoce de doenças mentais. Por muitos anos, falar sobre depressão e até mesmo o suicídio foi um tabu. Mas a abordagem do problema está mudando. O silêncio é o que mata”, reflete o deputado.
Segundo Marçal, é importante reconhecer quando a pessoa precisa de ajuda e enfatiza o papel da Casa de Leis. “A Assembleia Legislativa tem feito um excelente trabalho nesse sentido, com debates, projetos de leis. Eu, por exemplo, já participei de inúmeros debates sobre o tema e como coordenador da Frente Parlamentar tenho desenvolvido trabalhos de prevenção”, afirma.
O parlamentar também reforçou a importância de tratar do tema devido às consequências da pandemia. “O impacto psicológico do confinamento, da morte de entes queridos, da perda de emprego, da diminuição da renda, enfim, tudo isso mexeu com as pessoas e precisamos estar atentos a identificar os problemas para buscar apoio profissional", finaliza.
Com informações das Assessorias Parlamentares, do Conselho Regional de Psicologia de MS, da Universidade de São Paulo e da Agência Câmara de Notícias
Por: Evellyn Abelha Foto: Luciana Nassar /ALEMS