Os últimos meses não têm sido fáceis e a situação ficou ainda mais crítica em Mato Grosso do Sul com o aumento de mortes e o colapso na saúde. Todos os dias são, em média, 40 novas mortes registradas e quase todo mundo conhece alguém que já morreu ou que perdeu um ente querido para o coronavírus. Apesar do sentimento de tristeza e desamparo, especialista aponta que manter uma rotina diária é importante.
Psicóloga e presidente do CRP14-MS (Conselho Regional de Psicologia da 14ª Região do Estado de Mato Grosso do Sul), Marilene Kovalski explica que com a possibilidade iminente de ser contaminado ou até morrer pelo coronavírus e da polarização na política, economia e ciência, é possível comparar a pandemia com uma experiência de guerra. Diante do risco da contaminação e da morte, já que até faltam leitos para atender os pacientes em MS, o sentimento da pandemia é de desamparo, de vulnerabilidade.
“Nos sentimos impotentes em responder às demandas externas, pois não há um mínimo de ‘normalidade’ e da realidade interna, psíquica, frágil diante do desconhecido que exige um esforço a mais para a sobrevivência”, diz.
Kovalski afirma que não é possível fugir da realidade das mortes e do colapso na saúde neste momento da pandemia. “Saber que podemos adoecer e não ter um leito hospitalar, nos remete a miséria humana, ao desamparo”, ressalta.
A especialista diz que diante das perdas de pessoas próximas e da falta de condições para o luto, como a impossibilidade de acompanhar os familiares no hospital e no funeral, a morte durante a pandemia traz um sentimento ainda mais intenso. “A vivência da morte na pandemia é dupla. Vivemos a morte do ente querido, mas ele mesmo com a aproximação pode ser o causador da nossa. Ficamos cada vez mais sós, vivendo a angústia da castração, da morte”.
Entretanto, o que pode ser feito agora para cuidar da saúde mental durante a pandemia é manter os vínculos com os amigos e familiares, mesmo à distância. Assim, ligações, mensagens e chamadas de vídeo podem ser uma alternativa. “Como o próprio Freud nos dizia, o refúgio não é garantia de felicidade. Todos os dias pacientes nos relatam medo, dificuldade de estabelecer uma rotina mínima, de produzir, dificuldade de sono, de alimentação”, comenta Kovalski.
É importante manter hábitos do cotidiano mesmo em meio ao caos promovido pelo coronavírus. A psicóloga afirma que manter a rotina diária, mesmo com suas limitações, pode proporcionar momentos de satisfação. “O trabalho, as atividades físicas, a leitura, a escrita, um filme, participar de eventos on-line, tudo isso pode ser um refúgio contra o mal-estar”.