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A luta Antimanicomial: resistir em tempos sombrios

Em tempos políticos e sociais sombrios, inclusive para a saúde mental brasileira, o Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso do Sul (CRP14/MS) relembra, neste dia 18 de maio, dia da Luta Antimanicomial, o quão importante é continuar realizando um intenso trabalho sociocultural, administrativo e político para articular a sociedade à essa bandeira, evitando a destruição dos avanços sociais conquistados no campo da saúde mental.

A psicóloga e conselheira do CRP14/MS, presidente da Comissão de Saúde, Marilene Kovalski, comenta que a principal motivação da luta antimanicomial é o reconhecimento de que todo sujeito humano é um sujeito de desejo e de direitos.

“É preciso que a sociedade se organize para acolher e incluir a todos em sua singularidade. Independente da estrutura de discurso que cada um conseguiu organizar e utilizar para construir seus laços sociais. Somos únicos, diferentes, é preciso então respeitar essa diversidade”, afirma Marilene Kovalski.

Em defesa dessa singularidade, os 30 anos da Carta de Bauru, marco que foi celebrado ano passado, representa não apenas um período de grandes avanços para a reforma psiquiátrica e para a luta por uma sociedade sem manicômios, mas também a atualização do debate em torno da saúde mental e as novas frentes de luta.

O CRP14/MS esteve presente na celebração dos 30 anos da Carta de Bauru, ao lado de mais de 2 mil pessoas. A conselheira se recorda que “em mesas redondas, de forma democrática onde todos participaram em igualdade de direitos, se colocando, contribuindo a partir de suas próprias vivências, experiências e conhecimentos. Foi histórico e comovente. Atualizando assim a Carta de Bauru 30 anos depois”.

Apesar do desejo democrático, a redação da nova Carta de Bauru não deixou de mencionar o clima que ameaça o futuro das políticas de saúde mental no Brasil e a necessidade urgente de mobilização e luta. 

Em diversos trechos, a carta reforça a importância de zelar pela liberdade dos indivíduos: “A conjuntura presente, que intensifica o risco das conquistas duramente obtidas, exige um posicionamento que reafirme e radicalize nossos horizontes. É preciso sustentar que uma sociedade sem manicômios reconhece a legitimidade incondicional do outro como o fundamento da liberdade para todos e cada um; que a vida é o valor fundamental; que a sociedade sem manicômios é uma sociedade democrática, socialista e anticapitalista”.

A maior preocupação do movimento pela luta Antimanicomial é o regresso dos manicômios. A desconstrução do modelo asilar exerceu impacto muito positivo nas formas de cuidado em liberdade. Graças a novos serviços e redes, arranjos e experiências foram consolidadas, a exemplo dos Centros de Apoio Psicossocial (CAPS). 

Para manutenção desse tratamento mais humano, a Carta de Bauru é o megafone por onde gritam todas as vozes sobre a potência deste cuidado. A carta ainda diz: “Combatemos a cada dia o manicômio em suas várias formas, do hospital psiquiátrico à comunidade terapêutica, incluindo o manicômio judiciário; e a lógica manicomial que disputa o funcionamento de todos os espaços do viver. Gravamos, em corpos e mentes, a certeza de que toda a vida vale a pena”.

Para Marilene Kovalski, assim como para todos que fazem parte do movimento antimanicomial, a reforma psiquiatria que está sendo implantada no Brasil hoje, não escuta o grito pelo cuidado em liberdade.  A conselheira explica que a reforma é “ feita na verticalidade, sem ouvir os gestores e a sociedade em seus campos de atuação. E mais, descentralizando grande parte dos aportes financeiros de recursos públicos destinados a população geral para as chamadas Comunidades terapêuticas, que em sua maioria não atende a todos e não dispõe de um corpo teórico/clínico/técnico para tratamento adequado e numa proposta segregatória”.

Buscando o diálogo, o CRP14/MS promoverá amanhã, dia 17, às 19h30, no auditório 7 da Uniderp, a Conferência: Retrocessos na Saúde Mental e a Luta Antimanicomial. Participe!

 Lutar é resistir