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CONBOA 2016 – APOSENTADORIA: afastamento das atividades usuais de trabalho (divulgação de terceiros)

ATENÇÃO: 

*A RESPONSABILIDADE PELO SERVIÇO OFERECIDO (OBJETO DO EVENTO) É DA ENTIDADE/PROFISSIONAL PROMOTOR (A) DO EVENTO. O CRP14 EXIME-SE DE QUALQUER RESPONSABILIDADE PELO SERVIÇO PROPOSTO (CONFORME DESCRITO NO ARTIGO 5º, PARÁGRAFO SEGUNDO DA RESOLUÇÃO CRP 14 N. 003/2011).

APOSENTADORIA: afastamento das atividades usuais de trabalho (primeira parte*)

Prof. Dr. José Carlos ZANELLI

Diretor do Instituto Zanelli – Saúde e Produtividade. Idealizador e Presidente de todas as edições do Congresso Brasileiro de Orientação para Aposentadoria. Autor de livros e artigos científicos sobre aposentadoria. Consultor para implantação de programas de preparação para aposentadoria nas organizações públicas e privadas, conferencista para sensibilização e instrutor de módulos de qualificação de agentes de preparação para aposentadoria desde 1993. Telefones: (48)3335 0553/9983 6559 – jczanelli@terra.com.br

 

Se as mudanças que ocorrem na transição para aposentadoria são inevitáveis, para alguns elas podem representar uma significativa turbulência na inserção pessoal em diferentes contextos. O afastamento das atividades usuais de trabalho induz reorganizações temporais das tarefas cotidianas. O modo de vivenciar a aposentadoria atrela-se aos interesses e motivações pessoais, ao grau de comprometimento com o papel profissional até então exercido e à condição econômica do aposentado. Problemas decorrentes do rompimento muitas vezes estão vinculados a sentimentos de frustração, de impotência frente às transformações e, em casos extremos, à perda do amor próprio (Caldas, 2012).

Se, para alguns, a aposentadoria é percebida como um período de enfraquecimento de significados atribuídos à vida, de sentimentos de inutilidade e autodesvalorização, de vazio e solidão, para outros representa um tempo de novas conquistas, de liberdade, de desenvolvimento pessoal – a fase em que se pode executar o que a restrição de tempo impedia (Fraiman, 1990; Zanelli & Silva, 1996; Zanelli, Silva & Soares, 2010). Portanto, a depender da capacidade pessoal de enfrentamento e das condições que o ambiente proporciona para o crescimento individual, a aposentadoria pode ser vivenciada de maneira construtiva ou restritiva.

A aposentadoria, quando vivenciada como mudanças que são impostas ao mundo social e pessoal, pode acarretar isolamento social, desajustes familiares e conjugais, enfermidades e até mesmo mortes inesperadas em períodos imediatamente posteriores ao desligamento do trabalho (Fraiman, 1990; Salgado, 1980). Contudo, as atividades que favorecem a satisfação pessoal podem contribuir para o desenvolvimento físico e mental, incrementar a interação social e serem percebidas como um meio de contrabalançar eventuais perdas (Deps, 1994).

É necessário analisar o contexto de transição para aposentadoria. O grau de satisfação e o comprometimento com o trabalho realizado e o comprometimento com a organização ou organizações com as quais a pessoa manteve vínculos, as interações com colegas e com superiores, as oportunidades de crescimento pessoal e autonomia, entre outros aspectos, influenciam na decisão pela aposentadoria e seus possíveis desdobramentos. As percepções de perdas e ganhos decorrentes da aposentadoria são relevantes. Possíveis mudanças nos aspectos normativos da legislação previdenciária podem pressionar a decisão de desligamento: ter completado o tempo de serviço exigido em lei para requerer a aposentadoria, associada à expectativa de exercer com mais intensidade atividades lúdicas, de ter uma vida menos cansativa e estressante, de dedicar-se mais à família ou, de modo diverso, a expectativa de iniciar outra carreira, são elementos considerados na decisão. A perspectiva de possível maior controle do tempo disponível e uso para satisfação de necessidades pessoais estão, no geral, entre as percepções frequentes de ganho. Em contrapartida, a insegurança no que concerne à redução de rendimentos ou à estabilidade financeira são muito comuns. Também estão entre as perdas, preocupações com os vínculos de amizade do ambiente laboral, redução de oportunidades de desenvolvimento profissional, perda de status profissional e sentimentos de inutilidade.

As condições de trabalho ao longo de muitos anos, para grande parcela de aposentados, acabam por se revelar na forma de problemas físicos e sintomas de distresse (ou estresse negativo), já que a busca por rendimentos para a sobrevivência pode reduzir a busca por atividades lúdicas, hábitos alimentares saudáveis e a prática de exercícios físicos regulares (OMS, 2002; Caldas, 2009). A oportunidade da prática de atividades físicas regulares retarda o processo de envelhecimento e minimiza a dependência patológica para a sobrevivência (Deps, 1994; Neri, 2007; Shephard, 1994). Além disso, as atividades físicas quando associadas às atividades sociais têm efeitos terapêuticos e são preventivas do distresse, em especial, quando diz respeito à insuficiente ativação do organismo. Um estilo de vida que combina atividade física regular, alimentação adequada e controle do estresse podem proporcionar longevidade e uma vida mais saudável.

Planejar a aposentadoria, estar preparado para possíveis turbulências e ajustes no curso dessa etapa da vida, sem dúvida, é positivo e relevante para a sobrevivência. Algarín, Bernal e Sánchez-Serrano (2007) analisam o fenômeno e defendem que pessoas com níveis mais elevados de educação, com maiores rendimentos e enquadre profissional são aquelas que melhor planejam suas aposentadorias e, por isso, apresentam maior adequação à nova etapa.

 

Referências:

Algarín, E. B., Bernal, J. L. M., & Sánchez-Serrano, J. L. S.(2007). Evolución de la preparación a la jubilación en la empresa. Aposta: Revista de Ciencias Sociales, n. 35, Oct., Nov. y Dic.

Caldas, C. (2012). Promoção de saúde na aposentadoria. In: L. França & D. Stepansky (Orgs.). Propostas multidisciplinares para o bem-estar na aposentadoria. Rio de Janeiro: Quartet. FAPERJ. p. 75-96.

Caldas, C. P. (2009). Preparação para uma aposentadoria ativa. In: J. C. Barros Júnior (Org.). Empreendedorismo, trabalho e qualidade de vida na terceira idade. São Paulo: Edicon. p. 141-151

Deps, V. L. (1994). A transição à aposentadoria, na percepção de professores recém-aposentados da Universidade Federal do Espírito Santo. Tese. Doutorado em Educação. Universidade Estadual de Campinas.

Fraiman, A. P. (1990). Nós e nossos velhos: forças que falam e forças que se calam. Dissertação. Mestrado em Psicologia. Universidade de São Paulo, São Paulo.

Neri, A. L. (2007). Idosos no Brasil: vivências, desafios e expectativas na terceira idade. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo e Edições SESC.

OMS (2002). Active ageing: a policy framework. Acesso em 06 de novembro de 2012, http://whqlibdoc.who.int/hq/2002/who_nmh_nph_02.8.pdf.

Salgado, M. A. (1980). Velhice, uma nova questão social. São Paulo: Biblioteca Científica SESC. Série Terceira Idade.

Shephard, R. J. (1994). Custos y benefícios de una sociedad deportiva activa v/s una sociedad sedentaria.Resúmenes, 3º Simposio Internacional de Actualización en Ciencias Aplicadas al Desporte. Rosario, p. 127-135, Mayo.

Zanelli, J. C., & Silva, N. (1996). Programa de preparação para aposentadoria. Florianópolis: Editora Insular.

Zanelli, J. C., Silva, N., & Soares, D. H. (2010). Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho: construção de projetos para o pós-carreira. Porto Alegre: Artmed.

 

*Este é um trecho extraído do artigo:

Zanelli, José Carlos. Processos Psicossociais, bem-estar e estresse na aposentadoria. Rev. Psicol., Organ. Trab.Vol.12, n. 3. Florianópolis, dez. 2012.