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CRP14 Divulga: QUEIXAS ESCOLARES E ATUAÇÃO DAS/OS PSICÓLOGAS/OS EM TEMPOS DE PANDEMIA: VAMOS CONSTRUIR PARÂMETROS?

O Grupo Interinstitucional Queixa Escolar – GIQE – é um coletivo de psicólogas de inserções diversas (Educação, Saúde, Assistência Social, Ensino Superior e outras) e estudantes de Psicologia. Dedica-se a estudar, pensar e divulgar modos de atuação da categoria frente às dificuldades e sofrimentos da vida escolar em uma perspectiva crítica, que entende o ser e o acontecer humano como singulares, porém constituídos no seio de grupos e instituições que guardam relações de poder. Assim, a escola e seus funcionamentos são indissociáveis da produção das queixas escolares.

Esta consciência da natureza social das queixas escolares e o propósito de contribuir para seu enfrentamento faz com que o GIQE seja, também, um grupo de ativismo. Desta maneira, tem trabalhado em prol da construção de políticas públicas que promovam uma Educação integral e de qualidade para todas, todos e todes.

A pandemia de Covid-19 e as imensas mudanças que ocasionou na Educação, nas vidas e nas subjetividades trouxeram novas questões, temáticas inesperadas e imensos desafios à Psicologia que se dedica aos processos de escolarização. Esta crise se agravou exponencialmente por ocorrer em um período no qual o país submergiu em um governo negacionista em relação à ciência e que trabalhou ativamente pelo espalhamento generalizado do vírus, com notícias falsas e atitudes que favoreceram o contágio. Além disso, atrasou e desacreditou a vacinação, prejudicando principalmente as camadas mais empobrecidas da população. Assim, entre outros efeitos, prolongou a necessidade dos ensinos à distância e híbrido e disseminou o luto nas comunidades escolares, principalmente as do ensino público.

Antes da pandemia o GIQE vinha, há cerca de seis dos seus dezessete anos de existência, abraçando, desenvolvendo, divulgando e atuando em prol da ampliação do contato com o ar livre e a natureza, na escola e na vida. Partíamos da constatação do dramático e danoso grau de confinamento do modo de vida contemporâneo urbano – a que chamamos “vida entre quatro paredes” – que atingia principalmente as crianças.

Tínhamos clareza sobre a grande potencialidade e a necessidade desse contato, para uma Educação propícia ao desenvolvimento integral de seus participantes. Repentinamente e na contramão do movimento em torno destas questões que estávamos fazendo, a pandemia nos impôs o confinamento mais radical possível como meio de ficarmos vivos. A atuação das psicólogas por meio remoto/on-line, tornou-se uma necessidade e revelou potencialidades e limitações. O processo de descoberta de novos modos de viver e trabalhar, no período em que aconteceram os dois Encontros que compuseram o evento, estava em pleno curso e foi possível impulsioná-lo por meio das ricas discussões em pequenos grupos, seguidas de painéis das sínteses de cada um, as quais permitiram também a circulação de experiências.

No entanto, as novas questões, temas e instrumentos que discutimos conviveram com certezas que havíamos construído previamente. Uma delas é acerca da importância crucial de fortalecer, criar e divulgar práticas em Psicologia e em Educação que proporcionem experiências capazes de promover a consciência de que somos seres de natureza, parte indissociável da biosfera planetária. Assim, ao vivermos quase sempre entre quatro paredes e afastados de ambientes abertos e verdes, o que é especialmente dramático no caso das crianças urbanas, estamos nos afastando de nós mesmos. Este modo de viver e estudar tem produzido sofrimentos e adoecimentos que não têm sido compreendidos e que são, frequentemente, medicalizados.

Por exemplo: o GIQE vinha há anos discutindo como são frequentes os diagnósticos -e tratamentos- de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade serem dados a crianças que têm uma vida dentro e fora da escola em que quase não têm oportunidade de estar ao ar livre e em contato com a natureza como precisam para seu desenvolvimento saudável e feliz. São estudantes que não conseguem ficar parados e prestando atenção na classe porque lutam por sua saúde, embora geralmente não percebam, conscientemente, as razões de seu comportamento desadaptado às expectativas de professoras e pais.

A necessidade de distanciamento social lançou-nos ao mundo das comunicações e trabalhos on-line de uma maneira sem precedentes. Este fato possibilitou, a muitos de nós, a descoberta de recursos e experiências potentes nessa modalidade, que podem ser utilizados para ampliar nosso leque de modos e instrumentos de trabalho para além das circunstâncias pandêmicas sem ferir nossos princípios. Ademais, é provável que trabalhos remotos tenham conquistado espaços de modo irreversível, então precisamos ocupá-los, de modo competente e crítico.

Diante das demandas de atuação da Psicologia no enfrentamento às queixas escolares neste contexto, o GIQE organizou um evento on-line aberto, com o objetivo de construir coletivamente parâmetros e instrumental técnico na área, que também servissem como pontos programáticos para o próprio grupo. Este evento foi dividido em dois

Encontros: um voltado às práticas de atendimento psicológico clínico e outro às práticas institucionais, respectivamente, em 19 de junho e 16 de outubro de 2021 e contou com a participação de cerca de duzentas profissionais. Esta Carta foi elaborada a partir destes dois Encontros, como uma síntese dos saberes e reflexões construídos pelos participantes, mediados pelo GIQE, com suas posições e princípios. As informações que virão a seguir, desde a caracterização do contexto da pandemia até as propostas de atuação da Psicologia no enfrentamento das queixas escolares em contexto pandêmico, registram, sistematizam e refletem sobre os relatos, propostas e discussões realizadas entre os que participaram destes Encontros e que puderam compartilhar das suas vivências e experiências.

Confira a Carta clicando aqui