O Conselho Regional de Psicologia da 14a Região – Mato Grosso do Sul, vem a público se posicionar sobre matéria do portal Campo Grande News, publicada no dia 28/06/23, intitulada “Moradores denunciam descaso com residência terapêutica na capital”.
Acreditamos que a forma com que a matéria foi produzida pode ser considerada tendenciosa ou até mesmo sensacionalista uma vez que foi levado a público denúncias não comprovadas envolvendo moradoras/es do Serviço Residencial Terapêutico Moinhos de Vento do bairro Vila Planalto.
Na reportagem, não é possível identificar a devida apuração dos fatos, colocando o conteúdo a serviço da psicofobia e disseminando informações falsas sobre o funcionamento do serviço que, desde 2015, vem se mostrando essencial para o cuidado e reinserção social de pessoas com transtornos mentais graves.
Um exemplo visível é com relação às imagens divulgadas na reportagem que são antigas, incluindo até um telefone público que, há anos, já foi retirado do local, o que indica falhas na apuração jornalística sobre o conteúdo recebido, comprometendo, inclusive, a credibilidade do veículo de imprensa na divulgação de informações falsas.
Outra preocupação é a associação de pessoas com transtornos mentais as generalizando como indivíduos imprevisíveis, violentos e perigosos, podendo gerar um clima de instabilidade e pânico na população.
Diante disso, chamamos atenção da sociedade para a perspectiva adotada quando nos referimos às/aos usuárias/os dos serviços de saúde mental que pode ser considerada preconceituosa, reproduzindo violências que há séculos, vem estigmatizando essa parcela da população.
O SRT opera na lógica antimanicomial, na qual atua de forma contrária a segregação. O objetivo é atender pessoas que passaram por longos períodos de internação e não possuem condições de regressar para as suas famílias de origem, sempre prezando pela liberdade e o direito que elas têm de ocupar os espaços públicos. O equipamento possui equipe de referência qualificada para o atendimento e cuidados às/aos suas/seus moradoras/es. Já as Comunidades Terapêuticas, citadas na matéria, operam na lógica oposta e não são equipamentos públicos apesar de todos os recursos públicos que recebem mesmo com muitas críticas.
É dever do poder público garantir a todas as pessoas o acesso ao Sistema Único de Saúde ao invés de promover grandes transferências de recursos para entidades privadas. Somente desta forma conseguiremos trabalhar com investimento necessário para que toda a população, em especial as comunidades locais vizinhas de serviços de saúde mental, seja sensibilizada de que pessoas com transtornos mentais são sujeitos de direitos e merecem que o seu convívio em sociedade seja respeitado e garantido.
O CRP14/MS com indignação lamenta o fato que, se os erros da publicação não forem reparados, estará constituído um desserviço prestado por um veículo com potencial de basear o seu trabalho na construção de práticas de comunicação que auxiliem na construção uma sociedade mais inclusiva e diversa. Colocamos a Comissão de Saúde do CRP14/MS à disposição para explanar sobre a estigmatização da saúde mental e declaramos o nosso apoio as/os moradoras/es e trabalhadoras/es do SRT citado que, desde a publicação da matéria, vem necessitando, ainda mais de acolhimento.