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Nota de Repúdio à violência contra liderança espirituais Nhandesy Sebastiana Gauto e Nhanderu Rufino e sua Casa de Reza (Oga Pysy)

O Conselho Regional de Psicologia da 14ª Região – Mato Grosso do Sul (CRP14/MS), por meio da Comissão de Psicologia e Povos Indígenas, com profunda tristeza e indignação lamenta a notícia de mais um ato de violência contra os Povos Indígenas deste território.

Na madrugada do dia 18 de setembro, o Povo Guarani e Kaiowá sofreu mais uma investida violenta contra seus corpos e seu território: as lideranças espirituais Nhandesy Sebastiana Gauto e Nhanderu Rufino foram queimadas juntamente com sua Casa de Reza (Oga Pysy), na Aldeia Guassuty, no município de Aral Moreira.

As Casas de Rezas são heranças tradicionais, configurando um lugar de cura, de cuidado, de práticas medicinais tradicionais, de encontros, de rituais considerados sagrados para este povo… um espaço de conexão com a ancestralidade, que mantém a vida comunitária e o fortalecimento da cultura do Povo Guarani e Kaiowá.

Nesses casos, junto com as Casas de Rezas queimadas, a destruição também consome objetos tradicionais conservados ao longo de várias gerações de rezadores. A perseguição, a discriminação e o ódio contra os modos tradicionais de viver, bem como a fragilidade e o enfraquecimento da resistência desses Povos Originários, beneficiam os colonizadores e exploradores da atualidade: ruralistas, latifundiários, grandes corporações, o próprio Estado, etc, que estão nos territórios tradicionais e perpetuam o genocídio e o etnocídio dos Povos Originários especialmente por meio de uma expansão predatória do agronegócio.

Nesse sentido, diante dos recorrentes casos de violências sofridas pelas lideranças Guarani e Kaiowá, de modo geral, e das mortes de Nhandesy Sebastiana e Nhanderu Rufino, especificamente, o CRP14/MS solicita, publicamente, que os Órgãos Federais atuem com a maior celeridade possível, trazendo à tona e responsabilizando exemplarmente aquelas pessoas e grupos que estejam envolvidos nos casos de Casas de Rezas queimadas, ameaças às lideranças indígenas, invasões de territórios, etc.

Não há como pensarmos em saúde mental para Povos que vivem com a negação de seus direitos básicos de existência, discutir saúde quando se nega o direito à vida vai contra todos os princípios de promoção de Direitos Humanos responsabilidade da sociedade e do Estado como um todo.

Por fim, este Conselho repudia veementemente todas as formas de violências, e se coloca ao lado dos Povos Indígenas de Mato Grosso do Sul, dado que violação de direitos, genocídio, etnocídio, racismo religioso, ameaças de morte e afins são incompatíveis com uma sociedade democrática e justa. Pautado pelo compromisso social da Psicologia e pelo exercício ético-político da profissão, seguiremos vigilantes acompanhando o caso.