Por Renan Soares Jr (CRP14/02715-9)
Nas últimas duas décadas a Psicologia do trânsito tem se transformado no Brasil. A área que tradicionalmente se ocupava da seleção de condutores, começando com os de bonde e trem no início do século XX e depois da década de 1960 passou a ter seus fazeres muito concentrados na seleção de condutores de automóveis, motocicletas e caminhões.
Desde o meio da década de 1960, a Organização Mundial da Saúde – OMS passou a alertar sobre os desdobramentos problemáticos de um modelo rodoviarista adotado em muitos países, incluindo o Brasil, baseado no transporte motorizado particular e de ocupação cada vez mais individualizada.
Aumento da poluição, de sequelas permanentes e transitórias de ordem física e psicológica além de número crescente de óbitos em decorrência de sinistros de trânsito vem mobilizando os fazeres de muitas profissões, inclusive da psicologia na busca de soluções.
Nas suas formas de colaborar com um trânsito mais seguro, a psicologia juntamente com outras ciências têm se ocupado com intervenções que pensem e propiciem a construção de ambientes mais seguros, democráticos e inclusivos nas cidades para pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas.
As interações humanas no ambiente da mobilidade com segurança, entendendo-se como trânsito seguro aquele que não propicie a morte de pessoas, abrem diversas frentes em que a Psicologia do Trânsito pode atuar, desde a já estabelecida avaliação de condutores, como a educação para o trânsito, segurança de trânsito e gestão de comportamentos de risco, atendimento a vítimas e familiares de sinistros, pessoas com fobia e medo de dirigir, políticas públicas de direito a cidade, dentre outras.
Em 2020 findou-se a Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2011-2020 lançada pela Organização das Nações Unidas e a OMS com avanços significativos no combate ao elevado número de óbitos mundial e também no Brasil, um dos 10 países com mais mortes no trânsito do mundo.
Uma nova Década de Ação pela segurança no Trânsito 2021-2030 foi lançada, visando novamente a diminuição em 50% do número de mortes ao seu encerramento.
Um ponto importante é a presença da estimulação ao uso de Sistemas Seguros, estratégia já bem sucedida em outros países, que deixa de culpabilizar somente o sujeito pelo seu comportamento no ambiente da mobilidade e passa a co-responsabilizar planejadores, gestores e a sociedade em geral como responsáveis por um trânsito mais seguro.
A Psicologia, por meio dos saberes e práticas da Psicologia Ambiental, Social e da Saúde, dentre outras, também tem muito a contribuir com esse novo panorama.
A construção de uma nova realidade no trânsito brasileiro e mundial precisa não de uma, mas de várias psicologias cada vez mais atuantes e atentas aos direitos humanos, a democracia e a construção do bem comum.